Nesta semana nós brasileiros, sobretudo os de boa fé, ficamos espantados
com a decisão do Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul (TJ-RS) de que fossem retirados todos os crucifixos e
outros símbolos religiosos das repartições da Justiça do estado, sob a
justificativa de que o estado é laico.
Tal decisão nos faz observar alguns elementos para não cairmos no
falso pretexto de que, para eliminar as discriminações, é necessário
afastar os elementos religiosos, cristãos, dos ambientes públicos. Quem
defende essa ideia afirma que religião e Estado não se misturam, por
isso, como não pode haver privilégios entre os “iguais” em uma nação
democrática, a religião deve ser “sacrificada” em prol da coletividade.
A história brasileira é marcada pela cruz, o primeiro ato público
exercido em nosso território foi justamente um ato litúrgico, religioso,
a Santa Missa, e o primeiro nome do Brasil foi Terra de Santa Cruz.
Dentre nossos colonizadores estavam inúmeros religiosos, que, motivados
pela mensagem da cruz de Cristo, fundaram cidades, escolas, hospitais,
universidades, e milhares de homens e mulheres católicos cravaram a
religião católica como patrimônio cultural do nosso povo.
Por trás do pensamento de querer reduzir a religião à esfera apenas particular, existem conceitos ideológicos claros
que desejam eliminar Deus da cenário público e, consequentemente, a
religião do meio do povo, colocando o Estado como o “senhor” da nação, o
soberano, ou seja, o próprio “deus”. Basta ler alguns clássicos da
literatura da ciência política como: “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel e
“Manifesto Comunista” de Karl Marx e Friedrich Engels, que
encontraremos as primeiras concepções sobre o senhorio do Estado.
Infelizmente, alguns países fizeram e fazem esta experiência desastrosa,
causando como vítima única e exclusivamente o povo, é o caso da Rússia
(Comunista), Vietnã, Cuba, China, Coreia do Norte, entre outros.
Estudiosos a respeito da origem do Estado afirmam que este surgiu com a
finalidade de garantir a “felicidade” do povo, por meio de políticas
públicas e particulares, quer no campo comercial, quer no campo bélico,
social e religioso. O Estado surgiu para servir o povo, e não o contrário. No Brasil não é diferente,
o preâmbulo da Constituição da República Federativa apresenta algumas
finalidades do Estado, como assegurar o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica
das controvérsias, sob a proteção de Deus.
Ora, o Estado brasileiro surgiu para servir o povo, de fato, ele é laico, isso quer dizer que o Estado não confessa uma religião específica, mas ele não é laicista (antirreligioso).
Podemos afirmar que, no Brasil, existe o conceito da laicidade
positiva, visto que suas legislações garantem, asseguram e protegem a
liberdade religiosa, inclusive o patrimônio cultural da religião,
sobretudo o Cristianismo em sua maior expressão: o Catolicismo, pelo
fato de a maioria da população professar esse credo, e por esta estar
nas bases da criação do Estado Brasileiro. Por isso, o ordenamento
jurídico, além da liberdade religiosa, protege o patrimônio cultural da
religião.
A laicidade positiva é um conceito utilizado por diversas nações
que sofreram na “pele”, no passado, o erro de terem afastado a religião
da esfera pública, como a França. O presidente desse país, Nicolas
Sarkozy, afirmou ao jornal L'Osservatore Romano, em 22 dezembro de 2007,
que não considera a religião como uma ameaça, mas como uma força, que
pode desempenhar um papel vital por dar esperança à sociedade de hoje e
que não se pode afastar o patrimônio cultural e histórico da religião do
povo por constituir a identidade deste.
Portanto, afastar a cruz dos prédios públicos, além de ser uma
manifestação de indiferença ao patrimônio cultural, em prol de uma
pseudoigualdade, também é inconstitucional, antissocial, mal-educado,
intolerante. É rasgar as páginas sagradas da história brasileira. É
retirar as pedras mestras da fundação jurídica, histórica, social,
humana, religiosa e cultural do povo brasileiro. É, no fundo, negar
nossas origens, semelhante ao filho que renega seu pai. O patrimônio
cultural da nossa fé precisa e deve ser protegido pelo Estado, pois este
só possui razão de existir servindo os cidadãos e garantindo-lhes a sua
liberdade.
Ricardo Gaiotti
Advogado e membro da Comunidade Canção Nova
Fonte: www.cancaonova.com
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