A
arquitetura da Igreja dos Passos de São Cristóvão é característica do modelo
das igrejas coloniais da Ordem Terceira do Carmo, devotadas aos Sete Passos da
Paixão de Cristo. Essas igrejas são formadas por sete altares – o altar-mor e
seis altares laterais – cada um abrigando uma das sete esculturas em tamanho
natural, que retratam o martírio e a morte de Cristo. Também essas igrejas se
caracterizam pelas pinturas de teto em caixotes, dedicadas a Santa Teresa
d’Ávila, patrona da referida ordem secular, como referiu Frei
Francisco de Salles, O. Carm (informação verbal)[1].
Fonte: Lucia Maria Pereira, 2010.
[1]
Informação obtida através de conversas com Frei Francisco de Salles, O. Carm,
durante o processo de restauração da Igreja de Senhor dos Passos em 2009.
O voto e o ex-voto
O voto e o ex-voto são práticas
universais cujas raízes se perdem no tempo, desde as figurinhas mágicas do
Paleolítico Superior às quais o homem daquela época atribuía relação com
rituais de fertilidade, subsistiram até o Neolítico, integrando-se aos rituais
agrários relacionados com os solstícios e foram praticados entre sumerianos,
acadeanos, assírios, púnicos, egípcios, gregos e romanos.
Os fenícios, povos navegadores, foram
vetores da difusão e transculturação dessa mitologia oriental. No período da
expansão greco-romana, esses cultos difundem-se pela Grécia, Itália, Bretânia
[sic] e todo o Ocidente.
Tendo como ideia básica a invocação
dirigida à terra-mãe, muitos crentes depositaram peças votivas nos templos de
Diana, Apolo e Asclépio. Asclépio[1] – deus grego da
medicina – filho de Apolo com a mortal Coronis. Ainda recém-nascido é entregue
aos cuidados do centauro Quirion, que o instrui na arte de curar, pois é
profundo conhecedor das plantas medicinais. Torna-se grande perito da prática
médica, capaz até de ressuscitar os mortos. Isso desperta a ira de Plutão, deus
do inferno, que pede a Zeus que o mate. Zeus o atinge com um raio fulminante,
deixando triste Apolo. Para acalmá-lo, Zeus deposita no céu do Olimpo os restos
mortais de Asclépio, transformando-o numa constelação – o Serpentuário.
Asclépio, morto, passa a ser representado por um ancião, portando um bastão de
andarilho no qual está enrolada uma serpente, símbolo da adivinhação e auxiliar
de todas as divindades médicas. Na Grécia, são erguidos templos dedicados a
Asclépio para onde se dirigiam doentes em busca de uma cura milagrosa para seus
males.
Tão importantes eram os deuses
vinculados a cultos agrários ao se relacionarem “com a preservação da vida
ameaçada por doenças ou morte que o juramento atribuído a Hipócrates [médico
grego criador da teoria humoral], invoca Apolo – deus solar e oracular – para
testemunhá-lo” (SILVA,1981)[2].
[1] Cf. MIRANDA, Carlos Alberto Cunha. A Arte de Curar nos tempos da Colônia –
limites e espaços da cura. Recife: Ed. UFPE, 2011, p. 25-26.
[2] Cf. SILVA,
Maria Augusta Machado da. Ex-votos e
orantes no Brasil. Leitura museológica. Rio de Janeiro: Museu Histórico
Nacional, 1981, p. 24 (Coleção Estudos e documentos).
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