As Procissões de Senhor dos Passos são realizadas nos segundos
sábado e domingo após a realização do carnaval. Na sexta á noite os fiéis já
chegaram, reza-se o Ofício da Paixão de Jesus Cristo seguido da missa. A
primeira procissão é noturna e acontece no sábado onde são cantados os sete
primeiros passos da Paixão, que são realizados em locais prefixados e mantidos
segundo a tradição, onde são erguidos pequenos altares com uma tela
represenatando a passo a ser cantado pelos cantadores em latim. Os fiéis
carregam velas acesas, muitos dos ex-votos são deixados na Igreja do nesta
noite. O cortejo sai da Igreja do Carmo, antecedida pelos Frades, cantores,
músicos e promesseiros, a imagem de Senhor dos Passos sai encoberta por uma
caixa forrada com tecido de cor roxa, e dirige-se até a Igreja Matriz de Nossa
Senhora da Vitória de onde sairá somente no domingo a tardinha. Os promesseiros
seguem em silêncio, a maioria deles, vestindo túnica roxa , outos branca ou
preta da Vit sai a IMAJEM DE senhor dos passos, atada á cintura por um cordão
branco, outros usam túnica branca ou ainda preta, na cabeça coroas de espinhos
ou feixes de lenha. Muitos seguem descalsos, ajoelhados ou a pé, levam os
ex-votos, retratos, fitas, bilhetes ou cabelos para colocar na Igreja, ao final
deixam também as idumentárias, que são recolhidas e doadas aos pobres. A
pocissão diurna, chamada procissão do encontro, realizada na tarde do domingo
tem dois cortejos: Um cortejo acompanha o Senhor dos Passos da Igreja Matriz em
direção a praça São Francisco onde ocorre o encontro, são cantados três passos
neste percurso. Outro cortejo sai da igreja do Carmo acompanhando a imagem de
Nossa Senhora em direçãoà mesma praça. Um sermão é realizado no momento do
encontro das imagens, logo após ouve-se ecoar o triste canto da Verônica: "O vos
ommines qui transites per viam, attendite et videte se est dolor similis dolor
meus", e então seguem as duas imagens, conduzidas á Igreja do Carmo em cujo
trajeto são cantados os passos finais. Uma missa por fim é celebrada na praça do
Carmo com as duas imagens. Os promesseiros atiram suas vestes penitenciais em
direção às imagens. A devoção acontece no cenário místico da quaresma, quarenta
dias seguintes ao carnaval, tempo litúrgico propício ao jejum, à oração e a
caridade, tempo de cura, diariamente lembrado pelos evangelhos que retratam as
curas de Jesus em sua passagem pela terra. A cor penitencial tinge de roxo as
dores dos cristãos católicos, sendo pano de fundo para o discernimento sobre o
pecado, manifestado em seus sinais visíveis: doença, desarmonia, desamor,
vícios, desavença, perdição, inquietações, ferimentos, dominações, servidões. O
sentido proposto é a reconciliação, o sacrifício, o perdão, a súplica, o
reencontro com Deus que pode curar todas as enfermidades, a intercessão e o
louvor pelas vitórias alcançadas. Ao romeiro resta vir trazer ou
desesperadamente reter suas pobres palavras em silêncios, de pé ou de joelhos,
por preces, orações, súplicas e bilhetes deixados a Senhor dos Passos no esboço
ou nas ruínas de sua vida, num distúrbio minúsculo por onde aquilo que diz
escapa. Ali ele deposita as contingências pessoais e históricas que não são
apenas modificáveis, mas que estão em perpétuo deslocamento exigindo um esforço
etnolinguístico intenso de aproximação para conhecimento deste homem religioso,
aparentemente simples. Dirige-se ele, ao centro do que identifica ser santo,
saudável, curador, salvador além de si, irmanado às dores dos outros para
esquivar sua pesada e temível materialidade, num complexo misterioso e homogêneo
de crenças e visões de mundo. Deixa o romeiro uma parte simbólica de si,
identidade conformável parte e membro visível do chamado Corpo Místico de Cristo
(Cf. 1 Cor 12,13.).
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